quarta-feira, 29 de abril de 2009

Primula acaulis (Primulaceae)

Nos prados semi-naturais de Portugal continental está a acabar, ou já terminou (nas terras baixas), a floração das «primaveras», também conhecidas por «pascoelas» (Primula acaulis, = P. vulgaris). Estas plantas observam-se, facilmente, amontoadas em grande número, na proximidade das agueiras (canais tradicionais de regadio) ou dos amieiros, dos freixos ou dos muretes que bordejam estes prados.

Primula acaulis (Primulaceae), flores de estames longos e pistilo curto [foto C. Aguiar]

Se as virem colham algumas flores de pés distintos e cortem-nas longitudinalmente com uma lâmina de barbear. Facilmente poderão constatar que nas populações naturais de P. acaulis coexistem indivíduos de estames longos e pistilo curto com indivíduos de estames curtos e pistilo longo. Sabe-se que nesta espécie as polinizações compatíveis se verificam, apenas, entre flores com anteras e estigmas do mesmo comprimento. As flores de estames longos e pistilo curto polinizam flores de pistilo longo e estames curtos, e vice-versa. Flores com a mesma morfologia são incompatíveis. Este fenómeno que leva o nome de distilia faz parte de um menú muito variado de processos que as plantas utilizam para evitar o cruzamento entre indivíduos geneticamente próximos, i.e. de promoção da alogamia.

Os livros de biologia da conservação reservam uma fatia importante dos seus capítulos a louvar as vantagens da alogamia. Cuidado, muitas situações há no mundo das plantas em que vale a pena fazer sexo consigo mesmo (autogamia), o que raramente acontece entre os animais! Um dia falaremos do assunto alongadamente.

4 comentários:

  1. Obrigada, Carlos, por este post tão interessante. Não conhecia esta particularidade das pascoelas, mas se ainda encontrar alguma em flor, vou tentar observá-la como dizes, e mostrar às miúdas. É que, a propósito dos cães, temos precisamente andado a falar dos problemas de cruzar animais geneticamente próximos.
    Muitos parabéns também pelo blog, foi uma excelente ideia!

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  2. Não sabia disto, e só é pena que a resolução da foto não permita observar esse detalhe. Quando chegar a casa vou se consigo detectar as duas variantes nas minhas fotos dessa planta. Já agora: a versão multicolor da Primula acaulis é muito usada no fim do Inverno / início da Primavera para enfeitar canteiros nos jardins públicos que ainda não foram requalificados (e por isso ainda têm lugar para flores). Essas variedades cultivadas reproduzem-se por semente ou de forma vegetativa?

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  3. As prímulas cultivadas são um mundo! Além de P. acaulis, cultiva-se nos jardins públicos um grande número de espécies (P. veris, P. elatior, P. auriculata, entre outras) e inúmeros híbridos de numerosas cores e formas de inflorescência, que é costume agrupar em diversos grupos hortícolas de acordo com a origem e exigências culturais. Os híbridos cultivados devem propagar-se no final do período de floração por separação das pequenas "matas" e após eliminação das folhas e flores secas. Pela minha experiência, é possível encontrar no mercado sementes de prímulas, mas de germinação muito lenta, capacidade germinativa duvidosa e resultados pouco vistosos, porque as jovens plântulas são muito perecíveis e facilmente atacadas por afídios e lesmas. A Enciclopédia de Plantas e Flores da Royal Horticulture Society e a Flora Ornamental Española, volume III, dão uma boa perspectiva do cultivo de prímulas.

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  4. como cuidas das minhas prímulas

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