terça-feira, 30 de novembro de 2010

Clerodendrum ugandense (Lamiaceae)

















Depois de um belo post sobre carvalhos, aqui fica mais uma bela planta não identificada, fotografada há anos no interior de uma estufa do Jardim Botânico de Berlim, na vizinhança de uma begónia (Begoniaceae). Esperamos, como já é habitual, que algum dos sábios leitores deste blog forneça mais uma preciosa identificação!

Entretanto, graças à tempestiva intervenção do amigo Paulo, vamos corrigir este post:
trata-se do interessante arbusto ornamental Clerodendrum ugandense Prain, Bot. Mag. 135: t. 8235. 1909 (IPNI Plant Name Query Results), actualmente pertencente à familia das Labiadas mas que era tradicionalmente uma Verbenácea.

E, para acompanhar esta beldade, vamos sugerir uma ida fugaz ao Festival de Jazz de Montreux (1980), para ouvir e ver o grande Steve Hackett interpretando "Everyday":
YouTube - Steve Hackett - Everyday

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A marcescência das folhas em Quercus faginea (Fagaceae)


Exemplar de carvalho-alvarinho semi-caducifólico em S. Pedro de Moel.

Num excelente post anterior do meu amigo Carlos Aguiar, falou-se no conceito de marcescência e semi-caducifolia e deu-se como exemplo Quercus faginea e Quercus pyrenaica. É complicado referir que uma determinada espécie do género Quercus é marcescente ou semi-caducifólica porque se trata de género com multi-espécies que hibridam nas zonas de contacto e portanto podem partilhar haplótipos facilmente. A semi-caducifolia é típica das zonas temperadas húmidas na costa Este dos continentes e nas zonas subtropicais enquanto a marcescência ocorre em zonas montanhosas interiores em clima mediterrânico. O carvalho-cerquinho (Quercus faginea) é uma espécie típica das zonas mais continentais da Península Ibérica (Quercus faginea subsp. faginea). A sua presença no quadrante Sudeste da Península Ibérica (Quercus faginea subsp. broteroi), em zonas litorais parece ser uma contradição da ecologia desta espécie. Contudo a sua capacidade para absorver mais nutrientes durante o Outono, uma característica típica da marcescência, permitiu-lhe colonizar os solos pobres calcários do maciço estremenho, ocupando um nicho ecológico vago, já que sobreiro é incapaz de ocupar solos básicos. O centro Oeste do litoral Ibérico possui algumas áreas com um andar bioclimático e ombroclima (mesomediterrânico inferior húmido) com algumas semelhanças com as zonas temperadas húmidas, e que permitem o aparecimento dos louriçais mais exuberantes da nossa laurissilva incipiente. Neste contexto climático alguns exemplares de Quercus faginea e Quercus robur são claramente semi-caducifólicos, deixando parte das folhas verdes durante todo o ano. O facto de nesta região o carvalho-alvarinho e o carvalho cerquinho partilharem alguns haplótipos (especialmente na zona compreendida entre a Serra da Boa Viagem e Valongo), juntamente com as enormes populações de Quercus x coutinhoi (híbrido entre as duas espécies) da zona da Serra de Sicó, parecem indicar que estas estratégias evolutivas não são características intrínsecas das espécies mas sim o resultado de uma extensa troca de genes seguida de uma selecção positiva.

sábado, 27 de novembro de 2010

Amanita rubescens e A. vaginata (Amanitaceae)

Uma grave intoxicação com A. phalloides pôs em perigo uma família alargada de uma aldeia próxima de Bragança. A criança teve que ser submetida a um urgente transplante de fígado. A intoxicação dos adultos  foi menos severa e estão livres de perigo. Suponho que a massa corporal - necessariamente maior do que a da criança - os tenha salvo.


Não tenho fotos de Amanita phalloides. Em troca, duas outras Amanita, A. rubescens (à esquerda) e A. vaginata (à direita), amavelmente identificadas por uma amiga especialista.

Este triste e lamentável acidente poderá ter sido devido a uma confusão entre a perigosíssima A. phalloides e a deliciosa A. cesarea.
Ao contrário do que muita gente da cidade pensará, os habitantes do nosso espaço rural não são exímios naturalistas. Cada vez menos.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Marquesa de Alorna e a botânica

Leonor de Almeida Portugal [1750-1835], Marquesa de Alorna, teve uma vida tão longa como acidentada. Sofreu as perseguições do Marques de Pombal, e refugiou-se por duas vezes exilada no estrangeiro. Assistiu ao terramoto de 1755, à primeira fase da decadência dos Braganças, às invasões francesas, à guerra civil e à instauração da monarquia constitucional. A adolescência passou-a desterrada num mosteiro, em Chelas, não sem o convívio de visitadores masculinos. Casou com um alemão que, como era e ainda é hábito na nação, dado o berço alóctone, subiu meteoricamente no poder e na escala social indígena. Aparentemente, esteve envolvida no assassinato de um general francês. Uma filha foi amante de Junot; um filho acompanhou os exércitos de Napoleão à Rússia. Conviveu com a nata da nobreza europeu e o melhor da elite cultural portuguesa. Acabou os seus dias, bem, numa quinta apalaçada nos arredores de Lisboa.
Mulher de densa cultura, estupenda inteligência e incontida petulância aristocrática, pintou e foi autora de traduções e de uma obra poética vasta. Um dos seus livros de poesia tem por título "Recreações botanicas". Conheço dois artigos sobre o livro, ricos de comentários e transcrições, da autoria de Luis de Pina (1953) e da Prof. Maria Helena Rocha Pereira (1983). Da sua leitura percebo que além de um acurado conhecimento teórico da ciência botânica e da sua história - leu Lineu e Tournefort, louva Correia da Serra e Brotero e recomenda a botânica como fonte de prazer e elevação - a Marquesa de Alorna percepcionou a forma das plantas, entendeu o sistema sexual lineano, e conhecia de facto as plantas e o seu uso.
Atentem nestes dois trechos de poesia.
Sobre as leguminosas:

Quantos legumes saborosos cobre
Uma silica branca! Com que graça
Verde e branco o faval recrêa a vista!
Como a luzerna, que viçosa cresce
D'esmeraldas os campos alcatifa!
Quantas mais com profusos dons contentam
Homens, aves, quadrupedes, insectos!
As artes, a saúde, a economia,
Implorando os aureílios desta Classe,
Sem as plantas que pródiga concede
Talvez parcos triunfos obteriam.

Medicago orbicularis (Fabaceae), uma luzerna anual, frequente nas áreas de clima mediterrânico de Portugal continental, com algum interesse nas misturas de sementes de pastagens ricas em leguminosas

E das labiadas:

As labiadas são familia illustre
Que a Natureza distinguiu vaidosa,
Pela forma do calix, pelas bracteas,
Pela corolla as reconhece as eschola.
Destas plantas cheirosas as virtudes.
Combatem as tristeza, a dôr, e a morte:
...

Teucrium heterophyllum (Lamiaceae), um soberbo endemismo madeirense e canarino

Ficam pela certa bem a abrir uma dissertação sobre metabolitos secundários e substâncias aromáticas ou, então, um panegírico dirigido às leguminosas, ao rizóbio e à nitrogenase. O último servia também um livro de agricultura biológica, não fora a natureza alternativa da política de muitos dos seus praticantes.
[fotos C.Aguiar]

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mais uma planta não identificada (Brassicaceae)




Trazemos hoje aqui uma crucífera não identificada, fotografada no Jardim Botânico de Berlim já há vários anos. Não sabemos se será uma planta particularmente comum, mas parece-nos dar-se bem em sítios frescos e sombrios, apresentando uns curiosos bulbilhos globosos anegrados, algo semelhantes às amoras das silvas.
Pode ser que algum dos ilustres leitores deste blog nos possa esclarecer acerca da identidade desta crucífera...
A Fagus sylvatica L. (Fagaceae) e a Hedera helix L. (Araliaceae) também são bem visíveis nestas duas fotos, e, possivelmente, ainda outras espécies umbrófilas.

sábado, 20 de novembro de 2010

Cereal-pousio: erosão com o apoio da UE

Imagens como esta continuam a ser frequentes em Trás-os-Montes e em todo o sequeiro mediterrânico português:


Preparação do solo - para trigo, talvez - no sentido do maior declive

Mesmo em declives suaves, qualquer que seja o número, a época ou o sentido das mobilizações, a rotação cereal-pousio herdada da Roma clássica origina enormes perdas de solo por erosão (para entender o porquê proponho a leitura do capítulo IV deste livro):

Seara de centeio [PNM, Carragosa, Outubro de 2010]


A terra acaba por se esvair. Sobra um solo de palmo, com a mesma profundidade a que se desloca a relha da charrua:

Restolho de Trigo [Concelho de Macedo de Cavaleiros]


A rotação cereal-pousio é apoiada financeiramente pela UE porque - é senso comum - terá um papel essencial na conservação de uma certa biodiversidade animal. Faz sentido trocar um recurso não renovável - o solo - por um hipotético efeito benéfico em espécies cuja área de ocupação actual é um produto da perturbação antrópica holocénica? Para mim não faz, e duvido que as gerações futuras agradeçam tamanho empenho. A rotação cereal-pousio é anacrónica.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Narcissus triandrus (Amaryllidaceae)



















Os narcisos surgiram finalmente na Flora iberica, assim como diversos outros géneros (Agave, Furcraea, Galanthus, Lapiedra, Leucojum, Pancratium, Sterbergia, Yucca)!

http://www.floraiberica.es/v.2.0/miscelania/noticias/imprenta_XX.php

http://www.floraiberica.es/floraiberica/texto/imprenta/tomoXX/20_184_05_Narcissus.pdf

Para comemorar este acontecimento, aqui ficam imagens de Narcissus triandrus L. subsp. pallidulus (Graells) Rivas Goday, Veg. Fl. Guadiana 710. 1964 (o narciso amarelo mais vivo, endémico da Península Ibérica);

e Narcissus triandrus L., Sp. Pl., ed. 2. 1: 416. 1762 [Sep 1762] subsp. triandrus
IPNI Plant Name Query Results,
que é o narciso amarelo mais pálido, endemismo peninsular que também ocorre nas francesas Ilhas Glénans, de acordo com a excelente Flora iberica vol. XX (l.c.).

Sendo o género Narcissus L. um género dourado, deixamos aqui música apropriada, do grande compositor e dramaturgo Wilhelm Richard Wagner:
YouTube - Der Ring des Nibelungen, Das Rheingold Act 1: Prelude-Part I

domingo, 14 de novembro de 2010

Umbilicus heylandianus (Crassulaceae)

Cruzei-me-me com estes Umbilicus sob coberto de Quercus rotundifolia (Fagaceae) «azinheira» no Planalto de Miranda, no final da passada Primavera:

Umbilicus heylandianus (Crassulaceae). Distingue-se facilmente das outras duas espécies do género Umbilicus presentes em Portugal - U. rupestris e U. gaditanus - pelas suas flores tubulosas estranguladas na fauce [à entrada do tubo da corola].

Estes Umbilicus fizeram-me lembrar alguns Aloe (Xanthorrhoeaceae) angolanos e namibianos que admiro nos guias de árvores de autores sul-africanos. Embora evolutivamente muito distantes - os Umbilicus são eudicotiledóneas da família das Crassuláceas e os Aloe monocotiledóneas da família das Xanthorrhoeáceas - as semelhanças ao nível da inflorescência e da forma da corola são evidentes.

sábado, 13 de novembro de 2010

Tamus communis (Dioscoriaceae)

O Outono é a estação dos frutos.
Esgotou-se a cor das pétalas, mas aqui ali pontua a paisagem o apelo vermelho, violeta ou negro dos frutos carnudos. As flores chamam polinizadores; os frutos coloridos dispersores. A maior parte das nossas flores com perianto é polinizada por insectos; os frutos carnudos regra geral são dispersas por aves. Não surpreende, por isso, que os frutos carnudos geralmente sejam maiores e mais ricos em energia do que as flores que os precederam.

Um encontro feliz numa das minhas últimas passeatas botânicas:


Tamus communis «norça-preta», a única Dioscoriácea da flora Portuguesa. Os frutos são venosos, porém  menos do que os rizomas. N.b. em fundo, folhas e frutos de Hedera helix subsp. helix (Araliaceae)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pteridium aquilinum (Dennstaedtiaceae)






















Vamos hoje mostrar aqui uma das plantas mais comuns do Mundo: o belo feto Pteridium aquilinum (Linnaeus) Kuhn in Decken, Reisen Ost-Afrika. 3(3): 11. 1879 = Pteris aquilina Linnaeus, Sp. Pl. 2: 1075. 1753 (basiónimo)
Pteridium aquilinum in Flora of North America @ efloras.org,
também conhecido por "Adlerfarne" "Bracken", "fougère-aigle commune" ou "feto comum", entre muitas outras designações.
Numa das fotos, este feto tão comum aparece com dois exemplares da belíssima borboleta Zygaena trifolii Esper, 1783, da família Zygaenidae (Ordem Lepidoptera) Zygaena trifolii - Wikipedia, the free encyclopedia;
noutra das fotos surge acompanhado por uma Luzula (possivelmente a Luzula sylvatica (Huds.) Gaudin, Agrost. Helv. 2: 240 (1811) = Juncus sylvaticus Huds. Fl. Angl. (Hudson) 132. 1762 (basiónimo), monocotiledónea que pertence à família das Juncáceas e que se pode encontrar aqui: IPNI Plant Name Query Results e aqui: http://www.floraiberica.es/floraiberica/texto/pdfs/17_172_02_Luzula.pdf);
na outra foto, surge sob a cobertura de um pinhal de Pinus pinaster Aiton, Hort. Kew. 3: 367. 1789, árvore bem conhecida que se pode encontrar por exemplo aqui: Pinus pinaster in Flora of China @ efloras.org e aqui: Maritime Pine - Wikipedia, the free encyclopedia.
Este feto extraordinário, que se encontra sobretudo no Hemisfério Norte, forma clones que podem viver 1400 anos e produz toxinas que podem afectar as plantas vizinhas (Mabberley's Plant-Book, 2008: 714).
Sobrevive bem aos incêndios que tantas vezes destroem as outras espécies e desenvolve-se particularmente bem em locais frescos e chuvosos como as montanhas e os bosques.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Um resumo do sistema APG III

Na sequência de um comentário a um post recente do ZG (aqui) recordei que há uns meses atrás anunciei, neste mesmo blogue, a publicação do APG III (aqui). Na altura prometi explorar o sistema, porém, nem tive tempo de o estudar com a devida profundidade, nem vontade para escrever um post que pouco mais seria do que um copy & past da publicação original.
Acabou de ser pendurado na internet este pequeno e excelente resumo do sistema APG III, entretanto actualizado com a informação taxonómica molecular mais relevante publicada até Janeiro de 2010 (vd. Angiosperm Phylogeny Website aqui):

Resumo de uma versão actualizada do sistema APG III extraído daqui (clicar na imagem para disparar ficheiro pdf)

Imprimi-o em A3 e colei-o na parede ao lado da minha secretária.
Nada mais tenho para acrescentar.

domingo, 7 de novembro de 2010

Mais uma planta misteriosa (Gesneriaceae)


















Mais uma belíssima planta cuja identidade desconhecemos - poderá eventualmente ser uma Gesneriácea, talvez mesmo uma Gesneria, quem sabe?
Pode ser que alguns dos nossos ilustres leitores possam contribuir para a identificação desta excelente planta ornamental, que fotografámos num jardim subtropical bem interessante, já há meia dúzia de anos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Frutos de Prunus dulcis (Rosaceae)

Os frutos carnudos deiscentes, por outras palavras, os frutos brandos ricos em água que se rompem e libertam as sementes na maturação, tanto quanto sei, só ocorrem nos trópicos. Recordei este facto há 15 dias atrás enquanto observava estas amendoeiras.

Prunus dulcis (Rosaceae) «amendoeira»

Passo a explicar.
A amendoeira produz um fruto carnudo - uma drupa -, não comestível, ao contrário do fruto do Prunus persica «pessegueiro», uma espécie próxima também do subgénero Amygdalus. Nas drupas, o endocarpo, a parte mais interna do fruto, é rijo e protege uma semente, comestível no caso da amendoeira. Portanto, a amêndoa é uma semente, e não um "fruto seco", um termo agronómico de uso corrente, incorrecto do ponto de vista botânico. A parte carnuda das drupas da amendoeira - o mesocarpo - chegado o outono, abre uma larga fenda, solta-se e, geralmente, tomba no solo antes do caroço [endocarpo mais a semente]. Mas, atenção, a drupa da amendoeira não é deiscente porque a semente permanece sequestrada no endocarpo.
Uma curiosidade botânica menor.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Psilotum nudum e Ophioglossum lusitanicum (Psilotaceae, Ophioglossaceae)



















Vamos hoje publicar aqui duas maravilhas criptogâmicas de Outono, ambas pertencentes à classe Psilotopsida:

Psilotum nudum (Linnaeus) Palisot de Beauvois, Prodr. Aethéogam. 106, 112. 1805.
= Lycopodium nudum Linnaeus, Sp. Pl. 2: 1100. 1753,
como aqui se pode ver: Psilotum nudum in Flora of North America @ efloras.org.
Este pteridófito invulgar, de distribuição tropical, pertence à família Psilotaceae e à ordem Psilotales.

Ophioglossum lusitanicum L., Sp. Pl. 2: 1063. 1753 [1 May 1753]
IPNI Plant Name Query Results
Este pequeno pteridófito é espontâneo entre nós: "Habitat in Lusitania", já dizia o grande Lineu (loc. cit.), e pertence à família Ophioglossaceae e à ordem Ophioglossales.

E para acompanhar estas duas beldades extraordinárias, aqui fica música apropriada:
YouTube - Handel : Zadok the Priest, coronation anthem No. 1(HQ)
do grande compositor Georg Friedrich Händel George Frideric Handel - Wikipedia, the free encyclopedia

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O castanheiro e a castanha, outra vez

Duas semanas de geada e secura retiveram a castanha nos ouriços, e os ouriços nas árvores. Alguns agricultores, preparavam-se já para pulverizar a copa dos castanheiros com água, a fim de promover uma queda uniforme dos ouriços e a expulsão da castanha. Dois homem, um tractor, uma cisterna a reboque e uma pistola de pulverização, ou um homem e um tractor com um atomizador acoplado aos três pontos são suficientes para a operação.
Felizmente nos últimos três dias choveu com abundância.
Hoje está um belíssimo dia de sol. A castanha cai em força. Nos soutos a azáfama é grande: gente amarrada ao chão apanha castanha para sacas de adubo ou de batata-semente, drenadas para os armazéns da cidade em carrinhas de caixa aberta.
No passado recente ninguém se atreveria a trabalhar no Dia de Todos os Santos. Os tempos são outros!

A) B)
 A) Ouriço aberto depois da castanha tombar ao solo; n.b. as quatro valvas características dos ouriços de Castanea e as três cicatrizes deixadas por cada uma das castanhas. B) Ouriços acabados de abrir em consequência das chuvas de ontem (mais informação sobre a morfologia floral do castanheiro aqui e aqui).

Alguns números que certamente alguns dos leitores deste blog gostarão de saber:
  • Um castanheiro dos grandes produz mais de 200 kg de castanha;
  • Um bom souto de castanhas pode produzir 15 T/ha de castanha;
  • Um homem pode colher 200 kg/dia, mas à jorna raramente ultrapassa os 150-180 kg/dia;
  • Uma saca de adubo com castanha pesa cerca de 40 kg;
  • Este ano a castanha está a ser paga entre 1 a 1,5 euros/kg; as variedades de castanha grande e precoce (e.g. 'Judia') são as mais bem pagas;
  • A jorna está a 45-50 euros;
  • A colheita da castanha custa, em média, 0,3 euros/kg; os grageios e o transporte oneram com mais 0,2 euros/kg o preço da castanha.
Sendo a castanha "o ouro da Terra Fria transmontana" por que razão dados quantitativos, como estes, são tão difíceis de obter? Mais ainda. Por que é tão parca em informação agrícola a internet? Por que escasseiam nos livros números fiáveis relacionados com a agricultura, às escalas local e regional?
As fotos de plantas endémicas disponíveis na net são melhores e mais variadas do que de muitas plantas agrícolas. É mais fácil conseguir listas de plantas do que descrições satisfatórias de sistemas de agricultura. Há mais informação etnobotânica publicada do que etnoagrícola. As práticas festivas tradicionais das sociedades camponesas estão descritas com mais pormenor na bibliografia do que o dia a dia agrícola e pastoril.
Este enviesamento é impróprio e reflecte o crescente afastamento das economias e das sociedades modernas das suas bases produtivas. E a agricultura é tão ou mais interessante do que a botânica!