segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Que árvore é esta ? (II)

O meu último post continha uma pergunta descomprometida.
"Que estranha árvore é esta?"
 A maior parte dos leitores que se deram ao trabalho de escrever um comentário identificaram correctamente a planta retratada na foto, ou andaram lá perto. Sim, trata-se de uma Genista florida, com porte arbóreo porque foi conduzida (podada) pelo homem, e ciclicamente debicada por ovelhas e pelas vacas.


O montado de giestas-piorneiras não é novidade, e o porquê da sua existência também não. 
«Debajo de cada retama [Retama sphaerocarpa] se cría un borrego», dizem os castelhanos. O ilustre fitossociólogo, Prof. Salvador Rivas-Martínez, costuma servir-se deste ditado para explicar a importância das genísteas [leguminosas das tribo das Genisteae, i.e. das giestas] na gestão da fertilidade do solo no passado recente. As giestas são leguminosas e estabelecem um simbiose nas raízes com bactérias fixadoras de azoto. Por essa via, desempenhavam um papel fundamental na introdução deste elemento essencial à produtividade agrícola, nos sistemas orgânicos de agricultura. Por outro lado, as suas raízes mergulham no solo a profundidades superiores às das raízes das plantas herbáceas pratenses. Com o tempo, a bombagem activa de nutrientes para as camadas superficiais, e biologicamente mais activas do solo,  acaba por criar uma ilha de fertilidade em redor das giestas. Para aproveitar estes elementos nutritivos em favor das plantas pratenses o agricultor necessita de desadensar o mato, de construir um montado. Uma elevada densidade de plantas arbustivas elimina as plantas herbáceas mais desejadas porque estas são estritamente heliófilas (exigentes em luz): a sombra e as ervas pratenses nunca combinaram.
(continua)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Que árvore é esta? (I)

Uma copa de ramos finos, flexíveis e verdes é por certo invulgar entre a flora indígena de Portugal.
Que planta mais estranha!
Ninguém duvidará, porém, que se trata de uma árvore. Uma planta com 4 m de altura, de tronco desprovido de ramos que afasta do solo um copa globular bem ramificada, cai limpinha no conceito clássico de árvore (vd. Pio Font Quer, Diccionario de Botánica).
Mais interessante ainda é o montado representado na foto que anteontem visitei na Serra de Montemuro. Será esse o tema do meu próximo post.
Aceitam-se comentários ;)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Akebia quinata (Lardizabalaceae)















Depois de um post maravilhoso sobre a belíssima região da Gralheira, no Montemuro, aqui fica um arbusto chinês esplendoroso que também se pode encontrar cultivado, e até frutificando, na Serra de Montemuro:
Akebia quinata Decne., Ann. Sci. Nat., Bot. sér. 2, 12: 107. 1839
IPNI Plant Name Details
A foto da planta frutífera aqui inserida é proveniente das proximidades da Gralheira, na dita serra.
Ainda não havia aqui neste blog uma única Lardizabalácea, uma família de plantas vasculares universalmente reconhecida:
Lardizabalaceae - Wikipedia, the free encyclopedia.

Continuando com a excelente música de Brian Eno, aqui fica Music For Airports:
YouTube - Music For Airports

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Bem-vindos à Gralheira

"...
Dois meses depois Amaro foi nomeado pároco de Feirão, na Gralheira, serra da Beira Alta. Esteve ali desde Outubro até o fim das neves.
Feirão é uma paróquia pobre de pastores e naquela época quase desabitada. Amaro passou o tempo muito ocioso, ruminando o seu tédio à lareira, ouvindo fora o Inverno bramir na serra. Pela Primavera vagaram nos distritos de Santarém e de Leiria paróquias populosas, com boas côngruas. Amaro escreveu logo à irmã contando a sua pobreza em Feirão; ela mandou-lhe, com recomendações de economia, doze moedas para ir a Lisboa requerer. Amaro partiu imediatamente. Os ares lavados e vivos da serra tinham-lhe fortificado o sangue; voltava robusto, direito, simpático, com uma boa cor na pele trigueira.
..."
[Eça de Queiroz, O Crime do Padre Amaro]


Ontem andei pelo Montemuro (Beira Alta).
Na aldeia da Gralheira, concelho de Cinfães, mesmo ao lado da Feirão do Padre Amaro, por lá continuavam os mesmos velhos de sempre, de cajado na mão e pele arrepanhada pelo frio, a gozar a volta do sol.  Apressados, mas, suponho, com pouco que fazer, circulavam rostos femininos escondidos sob a capa burel, ataviados com a tradicional roupagem preta, mas de botas revestidas com pêlo por dentro, bem diferentes das socas de madeira de antigamente. À saída da aldeia um ou outro pastor vigiava com displicência pequenos rebanhos de arouquesas pachorrentas, a enfardelar com avidez os primeiros rebentos de final de Inverno. A ovelhas circulavam mais longe, para os lados da Lagoa de D. João, ou mais alto na serra, em redor das penedias graníticas.


Ao contrário do que seria esperar numa terra tão agreste e distante dos grandes centros, senti as gentes felizes, despreocupadas, bem. O contentamento circula por aquelas ruas de séculos maceradas pelo gelo e pelo vento. Este vento que penetra até aos ossos, a detestada ventania de Inverno é afinal a causa de uma súbita regeneração. A serra povoou-se de gigantescos moinhos de vento. Fantásticos geradores eólicos com pás de 40 m produzem electricidade dita renovável, e uma renda fixa que pinga em contínuo nos bolsos dos proprietários do monte que até há bem pouco tempo ninguém consegui a vender. Bem melhor do que o subsídio da CE ou o borrego de final de Outono! Com a nova indústria vieram mecânicos, electricistas, engenheiros e até turistas da grande cidade para quebrar a solidão do defeso invernal. Nunca faltam clientes no restaurante da aldeia, com prato do dia e onze empregados a tempo inteiro. Os migrantes de primeira e segunda geração recuperam palheiros e casas devolutas para gozar a reforma quantas vezes oferecidas ao virar os cinquenta. Alí ao lado, em Campo Bem-Feito, instalou-se um grupo profissional de Teatro. A Câmaras Municipais, com as rendas das eólicas, mantêm as estradas impecáveis. As carreiras de passageiros levam e trazem os garotos para os novos centros escolares com aquecimento central e cantina, professor de ginástica e de inglês.
Outro tempos aqueles a que Eça se refere no capítulo terceiro do "Crime do Padre Amaro"!


Parou de chover há três dias e os fogos despontaram, automaticamente, pela mão dos pastores, um pouco por toda a Serra. Melhor agora do que no pino de Verão. O solo está húmido e as plantas continuarão dormentes à espera dos calores de Primavera. Estes fogos frios e "ajardinados" são uma prática tão antiga como necessária. A palhuça seca de Agrostis x fouilladei, Molinia caerulea ou de Arrhenatherum elatius subsp. bubosum que por ora cobre a serra de pouco serve: é o pão seco e bafiento do animal. Os tapetes densos de Halimium ou as toiças envelhecidas de Ulex minor «tojo-molar» atrapalham a circulação dos animais e retiram espaço à forragem. Uma pequena carqueja aqui, um pequeno giestal acolá, tudo somado dá muito fogo que não entra nas estatísticas, que escapa à atenção de jornalistas e analistas, mas que regenera o pasto e dá de comer aos rebanhos. Nas áreas queimadas, a partir da Primavera os rebentos túrgidos de proteína do Ulex minor podem ser pastados com proveito e compensar a fibra bruta das gramíneas do monte. Um fabuloso endemismo regional, a Armeria beirana, também é beneficiado pelas "limpezas" de Inverno de potenciais competidoras. Os bosquetes de carvalho-negral (Quercus pyrenaica) suprimem o fogo e lucram com a eliminação dos arbustos de Erica arborea que lhe consomem a luz. Se é certo que o fogo pode atrasar a regeneração do bosque também é verdade que a não impede. Cada vez que vou ao Montemuro vejo mais árvores.
Os fogos violentos de Verão, esses sim, são indesejáveis e um produto da modernidade.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Verbascum levanticum (Scrophulariaceae)
















Depois de uma verdadeira maravilha, aqui fica uma outra, que pensamos ser não menos interessante e não menos rara (pelo menos na Península Ibérica)!:
Verbascum levanticum I.K.Ferguson -- Bot. J. Linn. Soc. 64 (2): 230 (1971).
IPNI Plant Name Query Results
Esta extraordinária beldade do Levante, naturalizada em Coimbra há mais de um século, continua a encontrar-se no mesmo local, sempre sobre velhos muros calcários
(cf. Benedí in Flora iberica XIII: 67-68, 2009)
http://www.floraiberica.es/floraiberica/texto/pdfs/13_144_01_Verbascum.pdf

Como acompanhamento musical, vamos sugerir este belo andamento (allegro molto) do Concerto per mandolini RV558 de Vivaldi:
YouTube - Vivaldi : Concerto per mandolini RV558 (allegro molto)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O espectacular Echium boissieri

Não consigo dizer muitas palavras - que alguém mais audaz avance para falar sobre esta planta. É uma planta simplesmente fantástica que temos o privilégio de ter em Portugal, e que estranhamente não se fala muito, apesar de, na minha opinião, estar em perigo. Aqui ficam algumas fotos, umas de uma população que o Marco Jacinto encontrou há uns anos na região de Ourém, outras de uma população mais clássica perto de Beja.

[foto:MPorto]

É estranhamente mais raro em Portugal do que seria de supor pela sua ecologia - vive facilmente em pousios e margens de caminhos. Como se vê nas fotos, um "vulgar" relvado perene (o "tal" habitat conhecido pelas múltiplas orquídeas que acolhe) serve-lhe perfeitamente.

[foto: Cristina T. Gomes]

Não sei ao certo quantas populações são conhecidas em Portugal, mas devem ser bastante poucas, e, pelo que vejo, sempre pequenas. Pelo que se vê no campo, parece ser uma planta que passa até 3 anos em roseta até, por fim, terminar a sua vida emitindo uma gigantesca inflorescência onde investe toda a sua energia. Uma inflorescência monumental, como um Agave.
Perdoem a figura humana, mas para servir de escala tem de ser:

[fotos: Ana Júlia Pereira]


Temo por esta planta. É de facto rara no nosso país (talvez não tanto em Espanha), e estas duas populações, pelo menos, podem não ter muito futuro. A de Beja em particular está a passar um mau bocado, empurrada para os taludes da estrada e margens de caminhos pelos girassóis que vegetam sob coberto do olival que já não é o que era. A de Ourém é um campo abandonado onde se instalou um relvado perene, e vê-se que a população está óptima, tem inúmeras plantas jovens, seedlings e adultos. Mas quem sabe o futuro deste relvado encaixado no meio de vinhas...

[foto: Ana Júlia Pereira]


[foto: Ana Júlia Pereira]

A espécie na verdade não tem problemas em regenerar. O problema é mesmo este ciclo de vida demasiado longo, impossível de sincronizar com a periodicidade tipicamente anual das actividades humanas.
Não deixa de ser uma estratégia estranha no contexto florístico que temos, que lembra, um bocadinho, as adaptações às ilhas.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Echium portosanctense (Boraginaceae)

No meu último post (aqui) referi ao de leve que o género Echium especiou intensamente nas ilhas macaronésicas, excepto no arquipélago dos Açores.

Estão descritos dois Echium endémicos na ilha da Madeira:
o Echium nervosum nos andares de vegetação basais e o ...


... Echium candicans lá em cima, na montanha.

Boas notícias! Acabou de ser descrito um novo Echium endémico, desta feita na Ilha de Porto Santo (ver aqui).
Aqui está ele:


Echium portosanctense.

[fotos C. Aguiar]

sábado, 15 de janeiro de 2011

Cedrus libani e mais alguns amigos (Pinaceae)



















Trazemos aqui hoje a grande e bela árvore Cedrus libani A.Rich. = Abies cedrus (L.) Poir. = Pinus cedrus L. = Larix cedrus (L.) Mill. = Peuce cedrus (L.) Rich. = Cedrus libanotica Link, que possui muitos nomes, como aqui se pode consultar:
Cedrus libani A.Rich. — The Plant List.
Mais misteriosa é a identidade dos pequenos amiguinhos fotografados no mesmo local, uma bela floresta de cedros (cedral) situada no sul da grande península (ou microcontinente) que é a Anatólia.
Se algum dos ilustres leitores deste blog os puder identificar, antecipadamente, aqui ficam os nossos humildes agradecimentos.
Também existem excelentes bosques de cedros noutros locais: nas montanhas de Marrocos, com Cedrus atlantica (Endl.) Manetti ex Carrière = Pinus atlantica Endl. = Cedrus libani subsp. atlantica (Endl.) Batt. & Trab. = Abies atlantica (Endl.) Lindl. & Gordon
Cedrus atlantica (Endl.) Manetti ex Carrière — The Plant List;
assim como na região dos Himalaias: Cedrus deodara (Roxb. ex Lamb.) G.Don = Abies deodara (Roxb. ex Lamb.) Lindl. = Larix deodara (Roxb. ex Lamb.) K.Koch = Cedrus indica Chambray, entre outras designações, como aqui se pode confirmar: Cedrus deodara (Roxb. ex Lamb.) G.Don — The Plant List.

Como acompanhamento musical para estas beldades, vamos sugerir uma gravação verdadeiramente histórica do prelúdio do III acto de Lohengrin, de Richard Wagner, dirigida pelo grande maestro Arturo Toscanini:
YouTube - Lohengrin: Prelude Act III -- Arturo Toscanini/NBC Symph

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Apomixia em Rubus


Foto: Duarte Silva

A taxonomia das silvas é um problema tão complexo que mesmo os investigadores que se dedicam ao seu estudo - batologistas – raramente tem certezas. Este género extramente complexo oferece no entanto algumas oportunidades únicas para obter uma perspectiva diferente do conceito de espécie. O exemplar da foto que ilustra este post é um exemplo típico das dificuldades em identificar “espécies” dentro do género Rubus. Este é um dos inúmeros híbridos da secção Corylifolii, série Subthyrsaidei que ocorrem na natureza e que se podem propagar por via apomítica, ou seja formam sementes sem necessidade de fecundação.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Narcissus tazetta (Amaryllidaceae)















Fotografámos hoje esta beldade de floração precoce, que nos pareceu ser o Narcissus tazetta L., Sp. Pl. 1: 290. 1753 [1 May 1753] (Amaryllidaceae)
IPNI Plant Name Query Results.
Na primeira foto é possível observar-se também a comum Oxalis pes-caprae L. (erva canária, trevo azedo, etc.), da família das Oxalidáceas, assim como uns curiosos insectos avermelhados que surgem frequentemente aos pares.

Como acompanhamento musical, vamos sugerir o belíssimo Te Deum do famoso compositor letão Peteris Vasks Pēteris Vasks - Wikipedia, the free encyclopedia.
YouTube - Peteris VASKS = Te Deum

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O fim da biodiversidade litoral


Rhynchospora modesti-lucennoi (foto: Duarte Silva)

Apesar de as áreas classificadas da Rede Natura ocuparem 21% do território Nacional, estamos longe de ter a perda de biodiversidade sob controlo. Em primeiro lugar, classificado não é a mesma coisa que protegido. Basta pensar no empreendimento da Barragem do Sabor e no caso A24 que atravessa a melhor área de carvalhal do sítio Alvão/Marão. Em segundo lugar, a maior parte das áreas classificadas estão em zonas do interior do país, onde a desertificação humana está a promover o restauro ecológico da paisagem. Mas olhando para as zonas litorais, o panorama é completamente diferente. A erosão costeira, a eutrofização excessiva e a construção sem ordenamento estão a transformar para sempre a paisagem litoral. E se fosse feito um Livro Vermelho da Flora Vascular neste momento algumas das plantas mais raras estariam em áreas litorais. Resolvi então falar de algumas dessas plantas e da sua situação no Norte de Portugal, para pintar um pouco do retrato da conservação vegetal em Portugal em comparação com os nossos vizinhos Espanhóis. Rhynchospora modesti-lucennoi (Em perigo critico no Livro Vermelho da flora vascular Espanhola) está a desaparecer nas zonas das lagoas de Quiaios devido a eutrofização das mesmas. Recentemente foi descoberta uma população perto de Ponte de Lima. Genista ancistrocarpa (Em Perigo Critico no Livro Vermelho da flora vascular Espanhola) possui algumas boas populações em Ponte de Lima e Viana do Castelo e Chaves mas foi extinta no resto da área. Euphorbia uliginosa (Em Perigo Critico no Livro Vermelho da flora vascular Espanhola) encontra-se provavelmente extinta no norte de Portugal, tendo algumas boas populações no Centro de Portugal. Cheirolophus uliginosus (Em Perigo Critico no Livro Vermelho da flora vascular Espanhola) ocorre num local em Vila Nova de Gaia, tendo algumas boas populações no Centro de Portugal. Succisella carvalhoana, Selinum broteri, Dryopteris guanchica e Linkagrostis juresii estão classificados como vulneráveis em Espanha mas a sua situação em Portugal é uma incógnita. Estas plantas estão quase todas associadas a ambientes oligotróficos litorais que se tornaram raros devido a uma política agrícola comum que promoveu uso excessivo de fertilizantes.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Taraxacum nordstedtii (Asteraceae)


Esta espécie de dente-de-leão, fotografada em Alturas do Barroso no concelho de Boticas é, juntamente com o T. pinto-silvae, uma das espécies da secção Celtica mais comum nas zonas montanhosas do Noroeste Peninsular. É uma planta que prefere ambientes acidófilos e oligotróficos e por essa razão é rara nos relvados urbanos saturados de nitratos. Nas áreas urbanas as espécies deste género pertencem quase todas à secção Ruderalia, e algumas tais com o T. ekmanii são seleccionadas positivamente pelo excesso de fertilizantes.
Foto: João Gonçalves

Rubus laciniatus (Rosaceae)


Mais uma espécie de silva encontrada assilvestrada num pinhal em Ponte de Lima. Esta espécie de origem desconhecida foi descrita a partir de exemplares cultivados no jardim botânico de Berlim, tendo sido reportada na Flora Ibérica como naturalizada em algumas províncias de Espanha.
Foto: João Gonçalves

Fragaria vesca (Rosaceae)














Ainda estamos no início de Janeiro, mas esta maravilha já se encontra em floração:
Fragaria vesca L., Sp. Pl. 1: 494. 1753 [1 May 1753] (ou Potentilla vesca Scop., Fl. Carniol., ed. 2. 1: 363. 1771)
IPNI Plant Name Details
IPNI Plant Name Query Results

Mais informação sobre esta belíssima planta se pode consultar por ex. aqui: Fragaria vesca information from NPGS/GRIN e aqui: Fragaria vesca in Flora of China @ efloras.org.
O morangueiro silvestre pode-se encontrar em toda a zona temperada do Hemisfério Norte, sobretudo em florestas, montanhas e prados, e deu até o nome ao famoso filme de Bergman «Smultronstället» ou «Morangos Silvestres»: Wild Strawberries (film) - Wikipedia, the free encyclopedia.

Como acompanhamento musical, e para começar bem o ano, vamos sugerir de G.F. Händel, Dettingen Te Deum: YouTube - G.F. Händel -Dettingen Te Deum- Diego Fasolis

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dracaena draco (Ruscaceae) I

O significado geográfico de Macaronésia é claro: designa, colectivamente, os arquipélagos atlânticos dos Açores, Madeira, Selvagens, Canárias e Cabo Verde. O conceito biogeográfico de Macaronésia, pelo contrário, não faz sentido.
A justificação de uma região biogeográfica Macaronésica assenta, tradicionalmente, na presença de alguns taxa peculiares de carácter reliquial, e.g. Myrica faya, Dracaena draco, Laurus e Euphorbia subsect. Pachycladae, e na partilha (muito desigual) de uma radiação adaptativa em alguns géneros, entre os quais se contam os inevitáveis Echium (Boraginaceae), mas também  Artemisia (Asteraceae), Euphorbia (Euphorbiaceae), Globularia (Plantaginaceae), Sonchus (Asteraceae), Tolpis (Asteraceae), Erysimum (Brassicaceae), Lotus (Fabaceae), Festuca (Poaceae) ou Deschampsia (Poaceae). Embora os arquipélagos da Madeira, Selvagens e Canárias tenham um elemento florístico e "vegetacional" comum assinalável, a semelhança da sua flora e coberto vegetal com os Açores, a Norte, ou com Cabo Verde, a Sul, é marginal. Não vale a pena sequer perder tempo a procurar pontes entre a flora e a vegetação tropical árida a desértica de Cabo Verde, e o verde luxuriante dos Açores.
Fiz uma leitura rápida das Floras e das checklists das plantas-com-flor dos arquipélagos de Cabo Verde, Canárias, Madeira e Açores e encontrei uma única espécie indígena comum a todos eles, a Dracaena draco. Isto, partindo do princípio que não andam por aí perdidas uma, ou mais, Dracaena por descrever.


Dracaena draco (Ruscaceae) «dragoeiro», algures nos Açores

domingo, 2 de janeiro de 2011

Cladoptose II

As árvores não são eficientes por igual a libertarem-se dos ramos em excesso. O Pinus pinaster (Pinaceae) «pinheiro-bravo» desrama naturalmente, sobretudo em povoamentos densos. Os Cupressus (Cupressaceae) «ciprestes», não. À medida que os troncos de Cupressus engrossam incorporam no lenho a base dos ramos mais velhos, estejam eles vivos ou mortos. Para se obterem boas madeiras, por exemplo de C. lusitanica «cipreste-do-buçaco», é necessário desramar ciclicamente as árvores.


 Plantação de Cupressus lusitanica desramada no final do Inverno. Seis meses depois ainda lá estavam os ramos pelo chão, junto a estevas e a silvados. Não ardeu tudo no Verão porque não calhou.

Os projectos florestais apoiados com fundos comunitários prevêem a retancha (reposição) das árvores mortas nos primeiros anos. O Cupressus lusitanica pega bem e resiste estoicamente à secura, por isso é muito apreciado pelos projectistas florestais. Agora talvez não, mas quando esta árvore começou a ser plantada em Trás-os-Montes muitos proprietários florestais não sabiam que as tinham de desramar activamente, ao contrário do que era habitual com o pinheiro-bravo. Uma desarmonia de interesses, entre muitas outras, que marcam as relações entre proprietários e projectistas florestais.