sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Centaurea langei (Asteraceae)

Se perguntarem a um botânico, com um mínimo de experiência, quais os grupos de plantas vasculares de taxonomia mais difícil em Portugal é muito provável que o rol inclua os géneros apomíticos Hieracium, Rubus e Taraxacum, algumas plantas de sapal como as Salicornia, às tantas Armeria e, inevitavelmente, Centaurea gr. Centaurea.
Este último grupo de plantas, pertencente à família das asteráceas, foi até há bem pouco tempo designado por Centaurea gr. Paniculata. O género Centaurea foi neotipificado em 2001: a espécie tipo passou a ser a C. paniculata. Por imposição do Código de Nomenclatura Botânica o grupo a que pertence o tipo herda o nome do género, daí Centaurea gr. Centaurea.
As chaves dicotómicas de Centaurea gr. Centaurea publicados na Nova Flora de Portugal não funcionam e o conceito de alguns dos taxa reconhecidos no grupo não é claro. De facto, tanto no campo como em herbário é geralmente impossível distinguir C. langeana de C. micrantha ou de C. melanosticta. A C. lusitanica já parece fazer sentido, assim como a C. coutinhoi, a C. rothmalerana e outras espécies mais.

Finalmente parece que este pântano de espécies e nomes foi posto na ordem. Os botânicos espanhóis J. Devesa e E. López  publicaram uma série de artigos (disponíveis aqui, aqui e aqui) que os interessados neste grupo essencial da flora vascular portuguesa não devem deixar de ler. Pelas mãos destes botânicos uma parte significativa das espécies de C. gr. paniculata foi despromovida à categoria de subespécie no âmbito da C. langei, e.g., a C. coutinhoi que habita as cotas mais altas da Serra de S. Mamede, e a C. exilis uma planta frequente na Beira-Baixa, apelidam-se agora, respectivamente, C. langei subsp. coutinhoi e C. langei subsp. exilis (ver mapa). Faz sentido.


O nome C. langei subsp. langei, por tricas nomenclaturais que não interessa agora explorar, é o nome correcto para as C. gr. paniculata que povoam o NE de Portugal, designadas por C. langeana nas Floras de referência.

Centaurea langei subsp. langei

As versões de C. langei de capítulos mais pequenos, próprias de ambientes ensolarados e secos (C. micrantha), e as plantas de brácteas mais escuras abundantes no NW e em prados mais a NE (C. melanosticta) foram incorporadas no conceito de C. langei subsp. langei.
Os nomes e os conceitos em taxonomia, ao contrário do que muitos pensarão, mudam por que têm de mudar, porque os sistemas taxonómicos têm que se aproximar cada vez mais de algo de real que é exterior a nós: a diversidade vegetal.

7 comentários:

  1. Então e as Centaurea herminii subspp. herminii e lusitana, mantêm-se?

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  2. Pelo que entendi, a Centaurea herminii (ambas as subspécies) ficaram englobadas dentro da variabilidade associada a C. langei subsp. rothmalerana.

    É mesmo complexo este grupo!

    AC

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  3. Sim, foram reunidas num mesmo taxon.

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  4. Então a C. langei subsp. rothmalerana deve ser uma das espécies mais comuns de Lu!!
    ZG

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  5. Ainda não tive oportunidade de ler os artigos com muita atenção. Pergunto a alguém que possa esclarecer. C. langei subsp. rothmalerana não parece restrita à serra da Estrela? ou como diz o ZG tem uma distribuição ampla em Portugal?

    Alexandre

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  6. Se a C. langei subsp. rothmalerana inclui as duas subespécies de Centaurea herminii (herminii e lusitana) então será uma planta muito comum e de ampla distribuição, pelo menos no centro do País!
    Se incluir também a Centaurea micrantha (não faço ideia se inclui ou não) então terá uma distribuição e abundância ainda mais vastas...
    Quanto à C. limbata e à C. melanosticta, também não sei... mas a situação parece ainda um pouco confusa... talvez o melhor seja esperar pela Flora iberica - o género Centaurea poderá certamente aparecer na Net antes do volume das Compostas ser publicado!!
    Abraço,
    ZG

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  7. A C. langei subsp. rothmalerana inclui os taxa designados anteriormente por C. herminii e C. rothmalerana. A C. herminii subsp. lusitanica foi classificada com subespécie da C. limbata, o que faz muito mais sentido. No entanto ainda existem dificuldades em separar no campo a C. langei subsp. langei e a C. langei subsp exilis com base no tamanho do papilho em relação ao aquénio.
    Abraço
    Paulo Alves

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