quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Glycine max (Fabaceae), a planta mais perigosa do mundo II

As proteínas são o cimento e o tijolo dos corpos animais. As defesas contra agentes infecciosos externos, a regulação da actividade celular, o transporte de nutrientes, gases e lixo metabólico e até o movimento dependem das proteínas. As proteínas são "legos" de amino-ácidos; os amino-ácidos incorporam átomos de azoto; e o azoto de algum lado tem que vir. Na complexa cadeia alimentar que sustenta as populações humanas, os átomos de azoto que compõem as proteínas alimentares têm, inevitavelmente, origem numa planta. As plantas assimilam azoto inorgânico ou moléculas azotadas simples que, por sua vez, provêm do adubo azotado químico, da reciclagem do azoto retidos em resíduos orgânicos ou da fixação do azoto atmosférico pelas bactérias diazotróficas que colonizam as raízes das leguminosas (outras fontes de azoto assimilável para as para as plantas, como sejam as descargas eléctricas atmosféricas, são irrelevantes no ciclo biogeoquímico do azoto).
Em apenas 100 anos, desde a invenção da síntese química da amónia por Fritz Haber e Carl Bosch em 1909, para mim a maior criação humana depois da invenção da agricultura, o ciclo do azoto passou a ser maioritariamente controlado pelo homem. Um átomo de azoto em cada dois incorporados na biomassa dos homens que povoam o planeta é fixada artificialmente através do processo Haber-Bosch à custa de consumos maciços de energia fóssil (3-5 % do gás natural é consumido neste processo).

Glycine max (Fabaceae) «soja», plantas cultivadas no Planalto de Miranda


A soja é uma leguminosa. A fixação biológica de azoto pode ser suficiente nutrir as plantas de soja em sistemas de elevada produtividade (e.g. 3000 kg semente/ha). No Brasil, o segundo maior produtor mundial de soja, esta planta é cultivada sem fertilização química azotada (uma revisão sobre o tema aqui). Construamos uma dedução simples do tipo A=B, B=C, então A=C: se a soja muito é uma fixadora eficiente de azoto e a fixação biológica de azoto reduz o consumo de combustíveis fósseis, então o cultivo da soja reduz a pressão sobre este precioso recurso não renovável que é o gás natural. As gerações futuras agradecem que consumamos mais proteína de soja, e menos proteína de cereais fertilizados com 200 e mais kg N/ha de síntese química, por exemplo.


A soja é das espécies mais trabalhadas pelos geneticistas. Dois exemplos. A soja resistente ao glifosato, um conhecido herbicida não selectivo, foi lançada em 1995. Estas variedades OGM permitem a utilização de técnicas de mobilização mínima na preparação do solo e, por essa via, reduzir os gastos em combustíveis fósseis, as perdas de solo por erosão e aumentar o teor de de matéria orgânica do solo. Estão a ser desenvolvidas variedades com elevados teores de lisina para serem usadas na alimentação do salmão, uma tecnologia que reduzirá a pressão sobre os stocks de peixe de mar.
Em resumo a soja é uma planta maravilhosa !!!
Mas ...
(continua ;)

4 comentários:

  1. Sem dúvida que a soja é uma planta maravilhosa!!
    Para além do mais, é bem mais agradável consumir soja do que carne!!
    Abraço,
    ZG

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  2. E ficamos à espera da continuação deste post, na qual teremos, seguramente, ainda outras informações bem interessantes para assimilar!!
    ZG

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  3. É espantoso haver «ecologistas» que são contra os OGM!

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  4. Amónia de síntese, a 2ª maior criação do homem? bolas... Eu diria talvez que é a 2ª pior. Felizmente existe a permacultura, a agricultura biológica, a biodinâmica e muitos agricultores profissionais e amadores que não usam nada disso e produzem muito alimento. Não fosse isso talvez fossemos levados a pensar que essa criação tão dispendiosa em termos de dinheiro, energia e ambiente era mesmo necessária. Estou curioso em relação ao resto do artigo (aliás irritado por estar incompleto) e com esperança que o resto do artigo faça juz ao título.
    É óbvio que a grande maioria dos ecologistas são contra os OGM, por milhões de razões mas refiro apenas uma: o facto de interagir e contaminar de forma imprevisível o meio. Os OGM e a agricultura biológica não são compatíveis no mesmo planeta (uma notícia recente: http://www.ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1510822). Quem só olha para os assuntos considerando apenas um ou outro aspecto e não todos e/ou o seu ciclo de vida, acaba a gostar muito de transgénicos, agrocombustíveis, energia nuclear, e outros "tecnomilagres"... Já eu, não caio nessa.

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