sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Hispidella hispanica Lam. (Compositae)









Hispidella hispanica Lam. (Syn.: Arctotis hispidella Juss. ex DC.; Bolosia piloselloides Pourr. ex Willk.), uma planta frequente nas nossas montanhas, é uma belíssima composta endémica exclusiva da Península Ibérica e a única espécie do género Hispidella Lam.
(http://www.theplantlist.org/tpl/record/gcc-108184; http://www.ipni.org/ipni/idPlantNameSearch.do?id=224947-1; http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameCache=Hispidella%20hispanica&PTRefFk=7000000)

Os bichos, bem interessantes, não fazemos ideia do que sejam, para além de serem Insectos, evidentemente...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Os garranos e a biodiversidade



Garranos a pastar no planalto da serra de Arga (foto: João Gomes)

O pastoreio de equídeos (garranos) no Norte de Portugal é resultado da nova política europeia de apoio às raças autóctones. Apesar de tudo não é algo novo, pois no século XIX eram milhares os animais que circulavam nas serras nortenhas. O seu número era mais controlado pelas populações humanas que iam periodicamente recolher os potros, do que pelo lobo, o predador típico destes animais. Os garranos pastavam livremente na serra durante o Inverno, sendo depois condicionados para as áreas marginais durante a primavera, quando os prados húmidos de maior qualidade eram necessários para o gado bovino. Ora os cavalos e as vacas pastam de maneira diferente, introduzindo oportunidades para espécies com diferentes características funcionais. Os cavalos comem essencialmente gramíneas fibrosas, evitando dicotiledóneas com grande presença de metabólitos secundários. Conseguem comer rente ao solo devido à sua dupla dentição, arrancado mesmo algumas ervas mais fibrosas como Agrostis curtisii e Nardus stricta. As vacas não conseguem pastar vegetação muito curta porque precisam de puxar a vegetação com a língua para a poderem cortar com os dentes, sendo menos seletivas em relação às plantas que comem. Este duplo regime criou pastagens muito diversas, sendo muito importante para um habitat em particular, o cervunal. Os cervunais têm uma diversidade florística muito grande, sendo essa diversidade dependente do tipo de pastoreio. As ovelhas produzem cervunais pobres em espécies, dominados pelo cervum (Nardus stricta), espécie que evitam devido à sua baixa palatabilidade e reduzido conteúdo nutricional. Isso é notório tanto nos cervunais da Escócia como nos da serra da Estrela. Cavalos e vacas produzem cervunais ricos em espécies quando em regime misto, ou seja, pastados por equídeos no inverno e bovinos no verão. O grande problema é que neste momento os cavalos são largados no monte sem qualquer tipo de seguimento, sendo que o controle das crias em muitos casos só é feito para ver se há baixas causadas pelo lobo. No século XIX, o garrano era muito importante na economia agrícola e pastoril, sendo muito utilizado pelas populações. Neste momento, representa para muitos um importante recurso apenas em termos de subsídio. Os garranos pastam durante o ano todo nos cervunais, provocando alterações muito significativas nas gramíneas dominantes. Se a isto for adicionado alterações provocadas pela adição de fosfatos ao sistema, devido à escorrência de cinzas resultantes dos incêndios, o caso torna-se ainda mais complicado. Na serra de Arga, é possível nalguns locais contar os pés de cervum, a gramínea que supostamente devia dominar estas comunidades. A Quercus tem em mãos um projeto que visa recuperar este habitat que é claramente moldado pelas atividades humanas, e que será um caso de estudo muito interessante nos anos vindouros.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Processos de invasão biológica



Gamochaeta simplicicaulis (Willdenow ex Sprengel) Cabrera (foto: Marisa Graça)

As espécies do género Gamochaeta são originárias das Américas e encontram-se neste momento em expansão na Europa, com comportamento invasor. Como se pode comprovar por este artigo, da autoria de um dos contribuidores deste blog, a maior parte das espécies deste género foi introduzida em Portugal nos últimos 60 anos, tendo tido um êxito considerável. Este género tem muitas semelhanças com o género Gnaphalium, tanto a nível morfológico como ecológico, colonizando habitats similares. O facto de só existirem duas espécies de Gnaphalium em Portugal Continental (G. uliginosum e G. luteo-album), permitiu às espécies do género Gamochaeta menos competição na maior parte dos territórios colonizados. A esta baixa competição associa-se a facilitação pelas actividades humanas, dado que as espécies de ambos os géneros colonizam facilmente os interstícios das estradas calcetadas. Na maior parte dos casos muito dos processos de invasão podem ser explicados por estes dois processos, baixa competição e facilitação humana. E se fizermos a analogia para a mimosa (Acacia dealbata), temos que nos lembrar que não existem na nossa flora espécies com estratégias e adaptações ecológicas similares. E quanto à facilitação basta pensar que ainda nos anos 90 se plantavam mimosas nos taludes das auto-estradas, para estabilização dos solos.

domingo, 2 de outubro de 2011

Glycine max (Fabaceae), a planta mais perigosa do mundo III

A evolução fez-nos heterotróficos e no que ao metabolismo das proteínas e do azoto diz respeito, dependentes da ingestão de proteínas de origem animal ou vegetal. A proteína foi sempre crítica na alimentação humana pré-industrial. Não há muito tempo, conforme descrevem os higienistas da primeira metade do séc. XX, a alimentação no Portugal rural baseava-se no pão, que chegava a suprir 90% das necessidades energéticas diárias. Fartura de carne só em dia de festa; no dia-a-dia o homem do campo bastava-se com o sabor do osso que fervia dias a fio no pote da sopa. Alguma leguminosa de horta mitigava a escassez crónica de proteína.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades ... e os menús.

Hoje, a proteína é barata e a carne uma componente crescente da alimentação humana. A soja é a fonte mais barata de proteína. Se a procura de proteína animal aumenta a área cultivada de soja segue o mesmo padrão, na devida proporção.

Adequabilidade para o cultivo da soja a tecnologias intermédias

Contrapondo a figura anterior (mais informação aqui) com a seguinte, constata-se que alguns dos espaços, à escala global, mais favoráveis ao cultivo da soja são áreas de elevada diversidade de plantas vasculares (e.g. SE dos EUA e Centro Oeste do Brasil). Mais importante ainda, muitos estes territórios possuem uma flora rica em plantas relíquia, com taxa supraespecíficos endémicos (e.g. Madagáscar ou Cerrado Brasileiro).

Diversidade de plantas com semente por 10.000km^2 (imagem extraída daqui)

Investigadores da Universidade de S. Paulo provaram, nos anos 50 do séc. XX, a utilidade agrícola dos solos do Cerrado após a aplicação de fósforo e a correcção da acidez com calcário. Estava aberto o caminho para a colonização definitiva do Centro-Oeste brasileiro, idealizada por Getúlio Vargas e pela República Nova no final da década de 30.
A resolução da infertilidade natural dos solos do Cerrado foi o primeiro passo. A partir dos anos 60, apoiada por uma sistema eficiente de investigação agrária e uma política agressiva de subsídios, a agricultura da soja (e do milho) espalhou-se como uma mancha de óleo pelo Cerrado. O cultivo da soja no Brasil é a maior alteração da geografia agrícola global das últimas décadas.
No Cerrado onde não se cultiva soja ou milho faz-se pasto. A correcção das deficiências nutritivas dos solos do Cerrado facilita também as Brachiaria e outras gramíneas pratenses C4 de origem africana. A flora do Cerrado, que durante milhares de anos evoluiu num ambiente de escassez de fósforo, elevada acidez e toxicidade pelo alumínio, mingua de dia para dia, enquanto a agricultura e as exóticas pratenses, inexoravelmente, preenchem os solos melhorados pelo homem.
A expansão da soja a habitats de elevada diversidade biológica é o primeiro elemento de perigosidade da soja mas não é o mais importante. A dependência da agricultura da soja no fósforo é absoluta; o fósforo é finito e falta pouco tempo para sentirmos os efeitos da sua escassez (ver aqui). A economia do fósforo está condenada à extinção, provavelmente ainda antes da economia do petróleo.

Hypericum perforatum (Hypericaceae) e Origanum virens (Labiatae)






Deixamos hoje aqui mais duas plantas em floração actualmente: Origanum virens Hoffmanns. & Link (Labiatae ou Lamiaceae) e Hypericum perforatum L. (Hypericaceae), duas afamadas espécies aromáticas e decorativas.