quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Duas notas sobre Pittosporum (Pittosporaceae) I

Duas espécies de Pittosporum são amplamente cultivadas nos nossos jardins: o P. undulatum e o P. tobira. O primeiro tem origem australiana, o segundo é indígena do Japão e China. Ambas espécies têm um porte arbustivo, por vezes arbóreo, e uma copa sempreverde, densa e brilhante, de grande valor ornamental, com proveito para construir sebes altas. O P. undulatum tem folhas de margens onduladas, e o P. tobira folhas espatuladas. As flores são grandes, esbranquiçadas, com o mesmo número de sépalas, pétalas e estames. No P. tobira exalam uma agradável fragrância citrina. Os frutos são verdes e depois amarelos e laranjas em P. undulatum, ou castanhados em P. tobira. As sementes apresentam uma cobertura carnuda e resinosa apetecida pelas aves, que sobresai, pela cor, na deiscência do fruto. O P. undulatum é uma das mais destrutivas invasoras dos Açores. Para além do velho argumento tautológico de que as ilhas têm nichos vagos e que por isso são permeáveis a fenómenos de invasão, parece claro que o P. undulatum se dispersou rapidamente nos Açores com a ajuda do pombo-torcaz, uma ave endémica do arquipélago, e que o uso de fertilizantes incrementou o poder competitivo da planta, já de si elevado.  O P. undulatum é uma planta pioneira de solos eutróficos que não teria a gravidade que tem não fora o uso maciço de fertilizantes nas pastagens açoreanas. Depois prefere solos ácidos e húmidos, que nos Açores não faltam. Para cúmulo as sementes germinam sem tratamento.
A constatação da agressividade desta planta, na região conhecida por incenso, nas encostas vizinha à Fajã de Santo Cristo, na formosíssima Ilha de S. Jorge, foi uma das experiências botânicas que mais me impressionaram nos Açores:

domingo, 27 de novembro de 2011

Aristolochia gigantea (Aristolochiaceae)

Ao ler um dos últimos posts do ZG lembrei-me de uma outra curiosa e sugestiva trepadeira do género Aristolochia, de origem brasileira, que em tempos fotografei no Jardim Botânico do Funchal.
Aqui está ela:

Aristolochia gigantea

O brasileiros chamam-lhe papo-de-perú; faz sentido. Como muitas outras Aristolochia é polinizada por moscas e liberta, por isso, um odor desagradável.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Tremella mesenterica (Tremellaceae)








Este belo fungo epífito membranáceo, de cor amarela bem viva,
ainda aqui não tinha sido postado.
Pensamos que se trata da Tremella mesenterica Retz. (1769), da família Tremellaceae, pertencente à ordem Tremellales, à classe Tremellomycetes, à subdivisão Agaricomycotina e à divisão Basidiomycota do reino Fungi.
(http://en.wikipedia.org/wiki/Tremella_mesenterica)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Opuntia elata Salm-Dyck



Fotos: Duarte Silva
As Opuntia, vulgarmente designadas como figueiras-do-diabo, são dos géneros mais complicados do Novo Mundo. Este género possui cerca de 200 espécies, que se distribuem desde a América do Norte à América do Sul, numa grande diversidade de ambientes. Apercebi-me da dificuldade em identificar estas plantas quando tive como tarefa identificar a coleção do jardim botânico do Porto. A experiência foi positiva já que me permitiu conhecer com mais profundidade as Cactaceas e rapidamente constatei que a revisão do género feita para a Flora Ibérica estava muito incompleta. Uma das espécies que ocorre mais frequentemente no Norte de Portugal tinha sido incorretamente identificada desde a sua introdução há mais de um século. Depois de a identificar, contactei um dos especialistas do género, o falecido curador do jardim botânico de Berlim, o Dr. Beat Ernst Leuenberger, que confirmou a minha identificação. A Opuntia elata é originaria do sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, ocorrendo em ambientes semi-xerófilos mas que podem ter alguma humidade durante parte do ano. Ao contrário da Opuntia maxima, antigamente denominada Opuntia ficus-indica, espécie que também ocorre no vale do Douro, o calor estival da Terra Quente deixa a Opuntia elata em stress hídrico e no verão a planta pode perder a turgidez natural.

sábado, 19 de novembro de 2011

Laphangium luteoalbum (L.) Tzvelev (Compositae)



Vamos postar aqui hoje uma composta (Asterácea), que nos parece ser o Laphangium luteoalbum (L.) Tzvelev in Bjull. Moskovsk. Obšč. Isp. Prir., Otd. Biol. 98(6): 105. 1994 = Gnaphalium luteoalbum L., Sp. Pl.: 851. 1753 = Helichrysum luteoalbum (L.) Rchb. in Mössler, Handb. Gewächsk., ed. 2: 1460. 1829 = Pseudognaphalium luteoalbum (L.) Hilliard & B. L. Burtt in Bot. J. Linn. Soc. 82: 206. 1981,
de distribuição eurasiática, africana e austral (http://euromed.luomus.fi/euromed_map.php?taxon=416430&size=medium; http://www.ars-grin.gov/cgi-bin/npgs/html/taxon.pl?411038).
Pode encontrar-se entre nós como planta ruderal, no meio das pedras das calçada!

sábado, 12 de novembro de 2011

Aristolochia kaempferi (Aristolochiaceae)









Para comemorar um dia tão extraordinário como o dia 11.11.2011, aqui fica uma verdadeira maravilha, da família Aristolochiaceae:
Aristolochia kaempferi Willdenow, Sp. Pl. 4: 152. 1805.
Syn.: Aristolochia chrysops (Stapf) E. H. Wilson ex Rehder,
um endemismo da Ásia Oriental e uma excelente planta decorativa trepadora lenhosa!
(http://www.efloras.org/florataxon.aspx?flora_id=2&taxon_id=200006616)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Algumas considerações sobre o choupo-negro


Foto: Duarte Silva
O carácter autóctone do choupo-negro (Populus nigra) em Portugal sempre foi muito discutido, dificilmente havendo consenso entre os diversos especialistas. Em termos ecológicos, a sua estratégia de vida é completamente diferente da das árvores ripícolas com as quais convive no nosso território. Ecologicamente comporta-se como uma “árvore ruderal”, crescendo rapidamente e produzindo imensas sementes com uma capacidade de dispersão enorme. Rapidamente envelhece, sendo que um choupo-negro com cem anos é uma árvore velhíssima. Árvores com o freixo, o amieiro ou o lódão podem viver durante centenas de anos e comportam-se mais como especialistas no seu habitat, tendo uma grande capacidade para resistir a eventos extremos e ao stress ambiental causados por esses eventos. O habitat do choupo parece ser locais sujeitos a inundações catastróficas periódicas resultantes das chuvas invernais ou causadas por degelos repentinos na primavera. Na Península Ibérica, um dos poucos rios que apresenta essas características é o Ebro, e um estudo recente da variação do DNA cloroplastidial desta espécie (Cottrell et all., 2005) mostra que este rio foi um dos principais refúgios para esta espécie durante as glaciações. Se neste momento parece não existir dúvidas que o choupo-negro é autóctone da Península, resta saber se ele chegou ao nosso território através da migração natural, ou foi trazido pelo Homem.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Um cogumelo e mais algumas plantas (várias famílias)





Trazemos hoje aqui uma foto de um curioso cogumelo, não identificado, acompanhado por diversas plantas da época, mais ou menos identificadas.
Assim, nas vizinhanças do curioso fungo, podem reconhecer-se:


Cotula australis (Spreng.) Hook. f., Fl. Nov.-Zel. 1: 128. 1852 (Compositae ou Asteraceae), uma pequena erva exótica, ligeiramente invasora, de origem australiana e neozelandesa;
Cercis siliquastrum L., Sp. Pl.: 374. 1753 (Leguminosae ou Fabaceae), representada por um fruto - uma vagem que parece pertencer a esta espécie (http://en.wikipedia.org/wiki/Cercis_siliquastrum);
Galium murale (L.) All., Fl. Pedem. 1: 8. 1785 (Rubiaceae), um endemismo euro-mediterrânico (http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameCache=Galium%20murale&PTRefFk=7200000);
Pyracantha sp. (Rosaceae), um fruto vermelho deste arbusto exótico espinhoso frequentemente cultivado em sebes;
Ochlopoa annua (L.) H. Scholz in Ber. Inst. Landschafts-Pflanzenökologie Univ. Hohenheim, Beih. 16: 58. 200 = Poa annua L., Sp. Pl.: 68. 1753 (Gramineae ou Poaceae)
(http://ww2.bgbm.org/EuroPlusMed/PTaxonDetail.asp?NameId=7711786&PTRefFk=7100000),
embora não possamos garantir que se trate desta espécie, evidentemente...

Todo este elenco florístico faz parte da chamada vegetação ruderal urbana, que surge, neste caso particular, por entre os blocos calcários que constituem uma calçada bem portuguesa.