segunda-feira, 9 de abril de 2012

Um ano de que não há memória

Nunca vi as cerejeiras-bravas assim ...

... flores misturadas com folhas secas do ano anterior! Nos castanheiros, as sementes secaram nos ouriços ou foram atacadas pelo bichado. A má qualidade fez descer o preço da castanha, o produto agrícola mais rentável da Terra Fria transmontana, para 1 euro/kg, ou menos. Consequências do Verão seco e quente que se fez sentir no passado ano.
2012 pode ser ainda pior. Não há memória de um ano assim. Algumas décadas atrás e a fomes grassaria pela aldeias. Vale-nos a globalização.
As chuvas que caíram nos últimos dias animaram os prados e derreteram o adubo de cobertura no centeio e nas aveias. No entanto, tirando os quatro dedos travessos mais próximos da superfície, cuja água será rapidamente consumida pelas plantas herbáceas, o solo está tão seco como no final do Verão. Mesmo que a precipitação de Abril obedeça ao padrão, milhares de árvores estão em perigo porque não haverá água suficiente no solo para transpirar no Verão.
A situação do sobreiro e o castanheiro para fruto é particularmente preocupante. Estas espécies além de não suportarem variações excessivas da precipitação, estão num deplorável estado sanitário. Algo semelhante acontece nas plantações de cerejeira para madeira. Até a frugal oliveira está em risco. Muitas oliveiras poderão colapsar, quando chegar o Verão, em fisiografias convexas ou em solos muito delgados. As que sobreviverem têm a produção deste ano e do próximo comprometida. É que a oliveira diferencia as suas flores no ano anterior.
As árvores têm memória. Os efeitos de um ano extraordinário perduram por mais de um ano.
Vamos ver o que acontece mas a esperança é pouca.

5 comentários:

  1. Excelente texto! Pela erudição e riqueza de vocabulário vernáculo, quase que lembra o nosso bom velho mestre Aquilino!
    E, parafraseando o Mestre, esperemos que do céu caia o ouro líquido que fecunda os solos!!

    ResponderEliminar
  2. Prunus Avium - belíssima árvore!!

    ResponderEliminar
  3. ...a poética narração lembra o amor que partiu e o amado a esperar, para mais um vez, florescerem em tecido de púrpura e brocados a ouro...lindo!! eu gulguei em 'relha da charrua'...grata.

    ResponderEliminar
  4. Olá
    Não tenho o olhar suficientemente apurado para avaliar esse estado na flora selvagem (embora até o cultivado mostre sinais renitentes de vida!) mas uma coisa já vi: as cerca de 8 a 10 andorinhas que costumavam chegar cá a casa,Douro Litoral,ainda em Fev.,só chegaram em Mar. e em nº que chegou a 4 e se reduziu a 3,muito pouco para os 5-6 ninhos do ano transacto; mesmo que simbólico e pontual, poderá querer dizer,que mesmo na viagem, não encontraram insectos suficientes por que ..com muito menos flores ..por que com menos água.Vamos ver como por cá,as plantas e os insectos,se mostrarão.
    Cumprimentos e obrigado pelo conhecimentos,
    Carlos M. Silva

    ResponderEliminar
  5. Nos últimos dias, tem chovido bem, felizmente!
    Parece estar a confirmar-se o famoso dito "Abril, águas mil..."!

    ResponderEliminar